quinta-feira, 17 de março de 2011

No PSD, já nem o calculismo político se aproveita...

O tempo tem sido bastante escasso para ir actualizando o blog, mas, de facto, assuntos não têm faltado.

E, nos últimos dias, o assunto mais falado (no âmbito da política nacional, entenda-se) tem sido a intransigência do PSD em debater a actualização anual do PEC, apresentada pelo Governo.

Esta intransigência assume contornos ridículos por duas ordens de motivos: a primeira, óbvia, prende-se com o facto desta actualização anual constituir uma obrigatoriedade para vários Estados-membros; a segunda, igualmente óbvia, relaciona-se com o facto de, há escassas três semanas, Pedro Passos Coelho ter afirmado em entrevista à Antena 1 que o PSD estaria interessado e disponível para negociar com o Governo uma actualização do PEC (aqui, no Câmara Corporativa ou aqui, em vídeo colocado no YouTube).

Mas esqueçamos o óbvio: vamos assumir, por momentos, que uma obrigatoriedade comunitária é uma "peça de teatro" e que uma contradição flagrante face a algo que se disse numa entrevista é que deve ser levada a sério.

Ora, hoje, Pedro Passos Coelho veio afirmar que o Governo apresentou a actualização ao PEC apenas para poder vir a responsabilizar o PSD por um pedido de ajuda que, de acordo com o líder do PSD, até já se encontra a ser preparado.

Em termos políticos, este foi um dos maiores "tiros no pé" de que me consigo recordar. E percebe-se porquê em poucas palavras.

Com efeito, se de facto o PSD considera que o Governo está a apresentar estas medidas, sabendo que não serão aprovadas pelo maior partido da oposição, para, posteriormente, ser responsabilizado por um pedido de ajuda externa que até já está a ser preparado, por que motivo é que o PSD não aceitou de imediato estas medidas, deixando o Governo agarrado à responsabilidade de um posterior pedido de ajuda externa?

De facto, a acreditar nas palavras de Pedro Passos Coelho, o PSD colocou-se, de forma consciente e deliberada, numa posição em que pode, legitimamente, ser co-responsabilizado por uma eventual ajuda externa, mas ao mesmo tempo afirma que o Governo é que se está a vitimizar.

Isto, de forma muito simples, não faz qualquer sentido.

Regressemos à realidade. É uma pena que o PSD continue absolutamente desligado da política séria, em prol do país e dos portugueses. Em vez disso, embarca nestas encenações bacocas, que custam dinheiro aos portugueses e, em bom rigor, nos envergonham além fronteiras.

5 comentários:

João disse...

Há um aspecto importante que te esqueces-te de referir. O PPC disse que estaria disponível para conversar, no entanto, o Governo apresentou na Europa um documento sem conversar com ninguém.
A primeira falta de "lealdade" foi do PS ao provocar algo por pura falta de respeito.

Nuno disse...

Estimado João,
Obrigado pelo comentário.

Não me esqueci de referir esse aspecto: acho apenas que está a ser mal interpretado, à luz do que foram as apresentações dos PEC 1 e 2, bem como das linhas gerais do Orçamento de Estado para 2011.

Com efeito, nenhum dos PEC, nem as linhas gerais do OE2011, foram apresentados previamente nem ao PSD nem ao Presidente da República.

Aliás, não me recordo do PSD, quando era Governo, apresentar primeiro estes documentos à oposição e apenas depois ao público.

A proposta de actualização do PEC foi tornada pública, no Conselho Europeu (tendo sido amplamente reconhecido o seu valor e importância), seguindo-se, naturalmente, o seu debate envolvendo os partidos da oposição.

A menos que a memória me falhe, julgo que sempre foi assim.

Cumprimentos!

Anónimo disse...

Caro Nuno,

Acho que o seu artigo está realmente incisivo, e realmente tem sido mal jogada, mal pensada e mal aproveitada esta fatalidade, que mataria qualquer governo, que tivesse uma oposição que conseguisse ver mais longe que uma semana.
Mas quanto ao seu comentário existe algum mal entendimento. Desde que o Passos lá está que o o orçamento/PEC é acordado entre o PS e o PSD, ou seja o PEC (se não me engano o de Março do Ano passado) foi dado o ok do PSD, pela Manuela e o Passos eliminou a eventualidade de uma crise politica da altura, indo reunir se com o PM e dizer aqui estamos para ser razoáveis (lembro que as eleições foram em Setembro de 2009) e fazer um acordo de estado como nos lembramos.
O PS não tem maioria absoluta e foi o primeiro governo desde Guterres com governo minoritário (o governo de Guterres era minoritário por um voto, antes desse foi o primeiro de cavaco que durou só dois anos), o PEC de Março foi aprovado por Ferreira Leite, mas com alguma negociação. http://noticias.portugalmail.pt/artigo/20100325/lacao-diz-que-ha-texto-comum-entre-ps-e-psd-sobre-pec
Mas que Passos no fundo foi em Abril dar a sua aprovação e renegociar algumas coisas e isto se não me engano foi o PEC 2.0. http://www.ionline.pt/conteudo/57524-governo-e-psd-juntos-contra-crise-vem-ai-o-pec-versao-20

Em Setembro, o orçamento, foi uma confusão estamos lembrados. Com uma primeira reunião entre Passos e Sócrates da qual um disse que o outro disse, não se entendendo o possível o que se passava, altura do famoso: "Com este senhor não me reúno mais com esse senhor sem testemunhas", na altura também foi mal jogado pela parte de Passos podia ter dito sim senhor, percebi mal o que este senhor disse vamos falar de novo, mas prontos orgulho nunca foi bom conselheiro, seja qual for a realidade.

O orçamento acabou sendo um acordo entre teixeira dos santos e cartoga. http://aeiou.expresso.pt/oe2011-teixeira-dos-santos-e-eduardo-catroga-assinam-entendimento-no-sabado-as-1100=f612397

Mas de todas as formas nunca nenhum PEC foi anunciado em Bruxelas. Ou como o nosso PM disse hoje "anunciado aos portugueses" (por acaso não em Portugal, mas sim numa cidade Belga chamada Bruxelas).

Mas bem quanto às finanças publicas o que interessa é que os juros já vão em 8% e http://aeiou.expresso.pt/socrates-acha-que-somos-todos-estupidos=f638155

cumprimentos,
P

João disse...

Não então, só houve PEC e orçamento com discussão prévia com o PSD.
Neste momento estamos também num contexto completamente diferente e Sócrates percebeu isso e criou uma grande cilada ao PSD....

Nuno disse...

Agradeço os comentários entretanto recebidos, mas reforço o que disse no meu anterior comentário.

Adicionalmente, o Porfírio Silva, no seu blog, faz igualmente referência ao facto de que estas propostas não são previamente apresentadas à oposição, como podem constatar aqui: http://maquinaespeculativa.blogspot.com/2011/03/excerto-do-debate-sobre-o-estado-da.html

Cumprimentos!