Passos Coelho sobe a uma árvore (Fotografia de Sara Marques)
As campanhas eleitorais representam sempre momentos em que se produz um elevado volume de informação, notícias, soundbites e afins, os quais por vezes nos dificultam a análise rigorosa do que nos trouxe à situação actual; qual o caminho que foi percorrido e quem o traçou, que nos fez chegar a umas eleições antecipadas cuja necessidade é, para alguns, altamente questionável.
Assim, dediquei uns minutos a reunir algumas notícias e posts da "blogosfera" que talvez ajudem a perceber como é que um país que enfrentava uma situação complexa na sequência de uma violenta crise internacional com o apoio dos seus parceiros internacionais, se vê agora a braços com um Governo em funções, uma elevada incerteza sobre o panorama político futuro e uma Europa muito preocupada com aquilo que Portugal será capaz de fazer nos próximos tempos.
Vamos, então, à "revisão da matéria dada".
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14 de Fevereiro:
- António Capucho, Conselheiro de Estado, afirma que o Governo terá de levar uma rasteira e sair.
- Em entrevista, Passos Coelho afirma estar disponível para negociar alterações ao PEC com o Governo.
28 de Janeiro:
- "Questões de saúde levam Capucho a deixar Câmara de Cascais"
11 de Março, dia em que a actualização anual do PEC foi apresentada:
- Miguel Relvas começa o dia informando que o PSD considera que será positiva a apresentação de medidas adicionais para redução da dívida e do défice, não obstante o líder do PSD ter sido apenas informado telefonicamente do conteúdo da actualização anual do PEC.
- Da reunião realizada no Conselho Europeu, para apresentação da actualização anual do PEC resulta a aprovação e congratulação, pela Comissão Europeia e Banco Central Europeu das medidas nele contidas.
- Passos Coelho anuncia a rejeição da actualização anual ao PEC, com base no facto de não ter tido conhecimento prévio do seu teor, para além, segundo Passos, de um mero telefonema na véspera.
19 de Março:
- Paula Teixeira da Cruz acusa o Governo de este ter anunciado as medidas da actualização anual do PEC primeiro à Comissão Europeia e apenas depois aos portugueses. O Governo e, posteriormente, a Comissão, repõem a verdade e desmentem Paula Teixeira da Cruz.
- Pedro Passos Coelho refere-se ao país como estando "de calças na mão".
21 de Março:
- Face a uma enorme pressão exterior, o PSD tenta explicar a sua posição sobre a actualização anual do PEC, disponibilizando um documento em inglês.
23 de Março:
- A actualização anual do PEC é chumbada no Parlamento, levando à demissão do Governo.
24 de Março:
- Angela Merkel reage ao chumbo da actualização do PEC, dando aquilo a que muitos chamaram "um puxão de orelhas público a Passos Coelho".
25 de Março:
- Merkel insiste e pede a Passos Coelho para esclarecer como reduzirá o défice.
26 de Março:
- Passos Coelho, em Bruxelas, anuncia que reprovou a actualização anual do PEC por este não ir tão longe quanto deveria. (vídeo aqui)
1 de Abril:
- Depois de António Carrapatoso ter avançado que as medidas de austeridade "podem chegar ao 13º mês", Passos Coelho vem dizer que "nós [o PSD] nunca falámos disso e isso é um disparate".
4 de Abril:
- PSD quer deslocar funcionários públicos à força.
7 de Abril:
- Manuela Ferreira Leite recusa o convite para candidata a deputada pelo PSD.
10 de Abril:
- Fernando Nobre é anunciado como candidato do PSD a deputado e a Presidente da Assembleia da República.
11 de Abril:
- Marques Mendes recusa o convite para candidato a deputado pelo PSD.
12 de Abril:
- Luís Filipe Menezes recusa o convite para candidato a deputado pelo PSD.
- António Capucho recusa o convite para candidato a deputado pelo PSD.
- Morais Sarmento afirma que Fernando Nobre não tem perfil para presidir à AR.
- Em entrevista à TVI, Passos revela que, afinal, esteve reunido com José Sócrates e tinha conhecimento do teor da actualização anual do PEC (vídeo com declarações prévias e excerto da entrevista).
14 de Abril:
- Miguel Relvas diz que "produzimos como marroquinos, não podemos viver como alemães". A metáfora cai mal em Marrocos.
15 de Abril:
- Pacheco Pereira revela que terá sido enviado um SMS a todos os deputados do PSD, na manhã do dia 11 de Março, ordenando-lhes que não fizessem declarações sobre a actualização anual do PEC, que estaria nesse dia em negociação no Conselho Europeu.
(Sem data exacta confirmada - provavelmente em meados de Abril)
(Sem data exacta confirmada - provavelmente em meados de Abril)
- Possivelmente como consequência da descida nas sondagens, o PSD contrata dois "marketeiros", naturais do Brasil, com experiência em campanhas eleitorais.
19 de Abril:
- Diogo Leite de Campos, vice-presidente do PSD, afirma que "quem recebe benefícios sociais são os aldrabões".
- Passos admite que programa do PSD será igual ao do FMI
20 de Abril:
- O PSD escreve uma carta, cuja resposta às questões nela apresentadas é facilmente identificada numa simples pesquisa na Internet.
21 de Abril:
- A popularidade de Pedro Passos Coelho desce a pique, ao passo que a de José Sócrates sobe.
- É revelado o teor de uma carta de António Capucho ao PSD Cascais, na qual critica violentamente a direcção de Passos Coelho e revela a sua intenção de ir para a presidência da Assembleia da República.
- Passos Coelho publica um vídeo a desejar "Feliz Páscoa".
22 de Abril:
- PSD destaca o seu histórico assessor de imprensa, Zeca Mendonça, para acompanhar no terreno Fernando Nobre.
24 de Abril:
- A campanha de marketing prossegue pela imprensa cor-de-rosa: "Passos, o homem apaixonado e que faz boas farófias, entrou no mundo cor-de-rosa".
26 de Abril:
- O PSD estuda a possibilidade de redução da reforma em virtude do pensionista ter recorrido, durante a sua vida activa, ao subsídio de desemprego.
- O PSD escreve mais uma carta, cuja resposta às questões nela colocadas é facilmente encontrada numa pesquisa na Internet.
28 de Abril:
- O PSD escreve mais uma carta.
- Paulo Rangel critica o PSD por este ainda não ter definido quaisquer "bandeiras políticas".
30 de Abril:
- Ainda sem qualquer proposta viável para o país, Eduardo Catroga afirma que "o fartar vilanagem de Sócrates foi uma tragédia nacional".
2 de Maio:
- O PSD escreve mais uma carta.
5 de Maio:
- Após serem conhecidos os termos do acordo entre Portugal e a Troika, Eduardo Catroga diz que o programa eleitoral do PSD será muito mais radical do que aquele acordo.
- Depois de recusar, numa entrevista em horário nobre à RTP1, comentar a posição do PSD sobre o acordo alcançado com a Troika, Passos Coelho opta por revelar a posição do seu partido num programa de humor durante a madrugada.
6 de Maio:
- As sondagens continuam a indicar a descida do PSD nas intenções de voto.
- Apesar de no passado ter dado indicações no sentido oposto, Passos Coelho agora afirma que se recusa a governar em coligação com o PS.
10 de Maio:
- As sondagens continuam a indicar a descida do PSD nas intenções de voto.
- Eduardo Catroga reitera a ideia de Leite Campos de forçar a mobilidade dos funcionários públicos.
- Num debate televisivo, Passos Coelho diz que o PSD nunca falou em eliminar a taxa intermédia de IVA, desmentindo a intenção anunciada por Eduardo Catroga. Aparentemente, a culpa é de um terrorista chamado Sócrates.
- Ainda sobre o IVA, Passos Coelho sugere o aumento da taxa aplicada ao fornecimento de electricidade para o seu nível máximo, por forma a financiar uma desejada redução da Taxa Social Única.
11 de Maio:
- Catroga compara Sócrates a Hitler.
12 de Maio:
- Passos Coelho anuncia que vai alterar o Programa Eleitoral do PSD, após ouvir as críticas de Santana Castilho no âmbito da Educação. Aguarda-se, a qualquer momento, a divulgação do novo Programa Eleitoral do PSD.
- Em entrevista à SIC Notícias, Eduardo Catroga tenta fazer descer ainda mais o nível do debate político, referindo-se a pêlos púbicos.
13 de Maio:
- Nova sondagem confirma a descida do PSD nas tendências de voto.
- Eduardo Catroga quer afinal baixar a Taxa Social Única em 8 pontos em vez dos 4 que pôs no programa do PSD.
15 de Maio:
- O PSD manda retirar do YouTube vídeos que lhe são críticos, invocando direitos de autor.
- Passos Coelho afirma que é "o mais africano de todos os candidatos". Os imigrantes africanos não gostam.
- Marcelo Rebelo de Sousa congratula-se com o facto de Eduardo Catroga ir de férias para o Brasil.
16 de Maio:
- Passos Coelho afirma que o Programa Novas Oportunidades tem sido uma "mega encenação paga a peso de ouro" para "atribuir uma credenciação à ignorância", exigindo uma auditoria externa que já havia sido realizada, que foi conduzida por Roberto Carneiro e cujos resultados são públicos.
18 de Maio:
- Passos Coelho procura junto de Dias Loureiro, envolvido no caso BPN, conselhos para o PSD recuperar terreno nas sondagens eleitorais.
21 de Maio:
- Fernando Nobre diz que "todos os portugueses são africanistas de Massamá".
22 de Maio:
- Passos Coelho defende menos feriados e pontes.
23 de Maio:
- Morais Sarmento diz que Sócrates faz lembrar Saddam Hussein.
24 de Maio:
- José Luís Arnaut compara Sócrates a Drácula.
26 de Maio:
- Passos Coelho admite novo referendo à lei do aborto (registo áudio).
- Passos Coelho rejeita apresentar mudanças à lei do aborto (registo vídeo).
27 de Maio:
- Jovem «agradeceu» a Passos ter-lhe «chamado ignorante» (registo vídeo).
28 de Maio:
- Na mesma manhã em que o Expresso publica que Cavaco discorda da redução do Governo, Passos Coelho põe de parte a sua antiga "promessa" de um Governo com 10 Ministérios e ensaia novo discurso.
- Passos responde "Uma enxadazinha fazia-lhe bem" a uma cidadã que lhe disse que ele devia era ir trabalhar.
30 de Maio:
- Passos Coelho defende trabalho cívico para quem recebe Rendimento Social de Inserção.
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O "teste" é já no próximo dia 5 de Junho.
4 comentários:
Começo por agradecer ao Nuno a referência a este blog.
A súmula de notícias que se deu ao trabalho de compilar poderia ter como título “Dário da Tomada do Poder por Passos Coelho”.
A alternância é a essência da democracia tal como os partidos existem para representar os interesses de grupos de cidadãos e consequentemente tomarem o poder.
Passo Coelho foi o líder escolhido pelos barões do PSD para a tarefa de derrubar o governo de José Sócrates e levar vitorioso o PSD para o governo através de eleições intercalares. Desta forma nem foi preciso aborrecer o amigo Cavaco Silva a tomar a decisão da demissão da AR e convocação de eleições. Claro que primeiro elegeu-se Cavaco silva para o seu 2º mandato em segurança e sem percalços.
O líder escolhido pelo PSD, nota-se ser uma personalidade bem-falante, até simpático mas “fraquinho” e sobretudo com uma verbalização flutuante e ziguezagueante, a deixar adivinhar nada de bom.
O líder forte para o PSD seria Paulo Rangel que foi afastado para Bruxelas, ainda bem para ele. Claro que não tinha o perfil desejado pelos baronetes do PSD não seria muito moldável.
Chegado ao Governo, após ter vencido as eleições, Passos Coelho vai ser presa fácil dos interesses dos que o apoiaram e subsidiaram.
Duas tarefas primordiais. As privatizações de tudo o que mexa, na educação, saúde, sector energético, Águas de Portugal, transportes, etc. Outro objectivo a revisão constitucional, para que outros voos lhes sejam permitidos no seu papel de aves de rapina.
Do escrito se deduz que nunca votaria no PSD, ou no laborioso Paulo Portas que tenta impor-se como candidato a 1º ministro, sem dúvida muito melhor político que Passos Coelho.
Como eleitor reconheço o trabalho feito ao nível da educação e do parque escolar, não concordo muito com a filosofia das novas oportunidades, teria sido mais positivo a criação de cursos técnico-profissionais e atribuição posterior de equivalência ao 12º ano.
Na saúde o saldo foi francamente positivo. A reforma dos cuidados de saúde primários, com os seus atropelos e clientelismos, foi uma revolução. Com a criação das USFs procedeu-se à modernização das unidades de saúde e a uma nova metodologia de trabalho em equipa da qual beneficiaram os utentes e também os profissionais. Tenho algumas críticas à existência de vários tipos de USFs e remunerações, penso que se o modelo evoluir serão ultrapassadas.
Já me alonguei quando na verdade o que está em causa é a decisão no próximo dia 5. O voto no PS seria fácil se José Sócrates tivesse feito o que o camarada Zapatero fez no PSOE. Teria assim permitido uma renovação das lideranças. Mesmo que perdesse as eleições o PS estaria pronto a assumir uma oposição determinada e efectiva. O bom político deve saber sair para não prejudicar o partido.
Pois bem tenho 7 dias para decidir se engulo ou não um grande sapo. Uma coisa é certa apesar de zangado com os tintos já não vou votar em branco.
Excelente!este comentario sobre Passos Coelho,nao é preciso acrescetar muito para dar mais uma achega, cuidado, Passos coelho é como os Chineses, comem tudo o que meche.
Excelente. Parabéns.
João
Obrigada.
Passei no Twitter, cada Item.
Rematei com ~> #Campanha #PSD Y Foi com 1 Escalada De GROTESCO EM GROTESCO, COM 1 SER GROTESCO!, QUE PORTUGAL - GROTESCO! - APOSTA NO GROTESCO! É GROTESCO! <~
Infelizmente, vamos assistir à apoderação do Grotesco. Dá medo.
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