domingo, 26 de setembro de 2010

Desistir

Ontem escrevi aqui um post em que, a dada altura, falei sobre negociação, uma arte em que todos os nossos políticos deveriam ser exímios, mas para a qual, aparentemente, têm graves lacunas.

Mas se as lacunas de competências podem ser resolvidas através de formação, há outras falhas que são muito mais complexas de solucionar.

Refiro-me, é claro, ao mais recente (julgo eu...) episódio protagonizado por Pedro Passos Coelho, que recomendou ao Governo que negociasse a aprovação do Orçamento de Estado para 2011 com o Bloco de Esquerda.

Com esta afirmação, Pedro Passos Coelho conseguiu reduzir a nada aquilo que deveria ser a causa mais nobre de um político: trabalhar para proporcionar as melhores condições de vida às pessoas que o elegeram.

De facto, Pedro Passos Coelho veio dizer ao país, aos seus apoiantes, aos militantes que o elegeram como líder do PSD, que é preferível uma solução PS + BE do que uma solução em que o seu partido participe. Com efeito, a única leitura possível destas declarações é que as propostas do PSD (ou a falta delas) são tão más que será preferível ao país ter, em 2011, um orçamento preparado por duas forças políticas de esquerda.

Com estas declarações, Pedro Passos Coelho mostrou inequivocamente aquilo que não procura, aquilo que não é, claramente, o seu objectivo na política: não quer melhorar o estado do país, está indisponível para ajudar na resolução dos problemas.

É pena, mas, acima de tudo, é uma enorme falta de vergonha e uma traição a todos os militantes do PSD, que têm um líder que, à primeira adversidade, desiste e passa a bola a outro. Mas não sem antes fazer muito ruído, que a todos prejudica, como é visível nesta notícia do The Wall Street Journal.

A frase é comum, mas encaixa-se perfeitamente neste contexto: nós podemos fazer parte do problema ou trabalhar para a solução. Sobre isto, eu não tenho dúvidas onde se posiciona o actual PSD, mas receio, antes, como é que Pedro Passos Coelho se comportará se um dia tiver que enfrentar as adversidades com que um líder de Governo é confrontado permanentemente.

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